Sobre tédio

Há dias, - na verdade semanas - em que eu não tive tempo para praticamente nada, além de tarefa atrás de tarefa. Acordar tomar banho sair de casa trabalhar tomar remédio comer acordarsaircorrendoalmoçartrabalhar voltar para casa dormir. Acordar. Acordar. Acordar.
E quando eu menos percebo, duas semanas se passaram e todas aquelas horas incontáveis de vida viram um bolo enevoado de confusão dentro da minha cabeça.

Lembro claramente que o que mais gritava na minha cabeça nesses dias de confusão, tudo o que meu corpo pedia - com a sua menstruação que não acabava, suas dores de cabeça ininterruptas, e a eterna vontade de chorar,- era um tempo, um folga. De mim, para mim, de encontro ao silêncio.
E como o universo sempre conspira, ela veio.

Não do jeito que eu queria, sem planejamentos, com sustos e dor, mas veio.
E sinceramente, uma das melhores coisas que me aconteceu foi passar intermináveis horas dentro de um quarto de paredes brancas e me alimentando de três em três horas.

Aprendendo a ter paciência

Esse processo de ter depressão na realidade é algo bem cansativo do que me avisaram, é uma luta diária que nem sempre estou disposta a entrar. Além de todas as noites chorando em desespero, e as várias crises que me faziam achar que eu estava morrendo Ela me tirou a habilidade - que francamente eu nunca desenvolvi direito - de ter paciência.

Não tenho paciência para quase nada, para revisar meu trabalho, para esperar o tempo de uma pessoa para nos tornamos amigas, para esperar o final de semana para ter um tempo com meu namorado, para dar um tempo a mim mesma, para voltar a ser a pessoa de quem eu me orgulhava em ser.

Gosto de culpar - além de mim mesma, pelo meu fracasso diário - meu remédio, que obviamente, tem me deixado mais ansiosa do que o normal, e eu sinto os efeitos da ansiedade no meu corpo, minha respiração acelerada, meu corpo mole e minha cabeça enevoada da tamanha atividade mental que está acontecendo daquele momento. E até poderia culpá-lo se eu tivesse a cara de pau de ir na minha psiquiatra, mas nem isso consigo fazer.

O mais curioso, como diz naquela música que eu amo "que foi machucado esquece que a dor uma hora passa", ou algo assim, é que toda vez que eu tenho uma crise de ansiedade, uma voz, lá no fundo das várias vozes da minha mente me pede para não fazer nada, para apenas esperar toda essa sensação ruim passar, porque vai passar independente do que eu ou outra pessoas façam. Mas não, toda maldita vez eu acaba colocando os pés pelas mãos e fazendo algo de que me arrependa. Toda vez.

Mas o que eu faço para tentar controla-la, ou diminuir a sua intensidade? Um monte grande de nada.

O que eu deveria fazer é, primeiro, marcar uma consulta com a minha psiquiatra; anotar e falar para ela tudo que estou sentindo de novo, e esperar se a nova dose, ou os novos medicamentos farão efeito. Segundo, começar a me exercitar, seja antes do trabalho, ou depois, prioridades são prioridades, e eu ando separado muito mente e corpo e só tenho me focado na minha mente, mas meu corpo está sofrendo bastante com a total falta de atenção que eu tenho dado para ele. Terceiro, desenvolver e tentar estratégias para tentar diminuir a frequência e a quantidade, e ter paciência se elas não funcionarem de primeira.

Sei lá se isso vai dar certo, nem sei se vou tentar tudo isso.

Eu só não quero mais a sensação de que tudo que eu conquistei, mesmo quebrada do jeito que eu estou, escorregue pelos meus dedos, por causa de auto-sabotagem e por falta de paciência.

Eu só não quero mais lutar todos os dias para viver.

A mentira que conto para mim mesma (e que na maioria das vezes eu acredito)


Não sei o que buscava ao tentar ficar escrevendo os meus sentimentos nesse blog e trancar só que eu possa ler posteriormente, talvez uma luz digna que viria da minha cabeça entendendo como passar por tudo isso e conseguir realmente me conectar comigo mesma, não sei. Talvez eu esteja só desviando o assunto.

Estou a poucos minutos de um segundo encontro, que é tecnicamente mais tranquilo que o primeiro, só que uma semana quase nos separa, e por causa de algumas mensagens trocadas, a minha expectativa está muito alta, o que eu sei que é só piração da minha cabeça, mas talvez seja normal, já que esse é o terceiro cara que eu saio em toda a minha vida, e o segundo que eu beijo, agora eu sei que não faz sentido nenhum exigir uma postura relaxada e que sabe o que está fazendo, por que eu não sei. Ainda não sei. Talvez um dia em saberei, mas por enquanto não vou fingir para mim mesma que eu estou tranquila e que eu sei como agir, por que eu não sei, isso tudo é muito novo para mim, e talvez isso seja a grande maldade desse tempo, você não tem tempo de amadurecer no meu tempo, por se todos a sua volta já amadureceram (ou fingem) eles tem que mostrar para todo mundo o quão adultos eles já são.

Talvez parar de mentir para si mesma (e talvez para os outros) seja um bom começo para aliviar esse peso da existência que vem pesando bastante.

Me sinto até mais leve, talvez essa coisa de escrever os seus sentimentos funciona.


Sobre o tédio

Acho que a pior sensação é aquela que bate no final da tarde, agora no inverno, quando o sol já está se pondo e vem aquele vazio no peito de ter desperdiçado mais um dia.

Não estou trabalhando, não estou estudando e deveria usar essa quantidade inacreditável de tempo livre para fazer algo bem legal - nos meus parâmetros do que seria "algo bem legal" - tipo aprender a tricotar ou estudar para o vestibular, ou analisar a direção de arte de um filme bem antigo, mas eu vivo e respiro pessoas e sem ter um contato verdadeiro com ninguém, sinto que nada tem o mesmo gosto e tudo é muito vazio.

Quanto mais perto do Sol se por, mais ideias incríveis de como eu poderia ter aproveitado melhor o meu dia surge na minha cabeça, quanto mais escurece qualquer atividade parece ser mais interessante do que ter passado o dia todo fazendo uma maratona de um reallity de moda, até limpar o chão da cozinha teria sido um melhor uso do meu tempo.

É muito fácil olhar para a vida dos outros e dizer que são bem melhores do que a minha, todos tem coisas para fazer, lugares para ir, pessoas para ver, vida para viver e eu continuo na minha toca, tentando encontrar sentindo em todo esse marasmo. Mas talvez alguns também achem a sua rotina vazia e sem sentido e que estão gastando o tempo da sua vida em coisas que não faz sentido. Talvez. Talvez todos temos questões mais parecidas do que queremos pensar.

A minha volta eu conheço pessoas extremamente disciplinadas, que aparentemente sabem muito bem como gerenciar o seu tempo, quanto eu não consigo sair da cama a hora que eu me proponho. Quando eu estava no ensino médio, sonhando com o dia em que me formasse, eu imaginava que teria uma vida bem diferente dessa, uma vida mais agitada, com mais checks na lista de feitos, com mais trangessões, com mais cortes de cabelos malucos, com mais cor, com mais vida.

Não sei, talvez seja a falta de Sol, talvez seja falta de vergonha na cara, talvez só seja um dia ruim no qual meu cabelo, pelo e auto estima estejam péssimos, mas eu odeio essas tardes de tédio, que viram noites de tédios que viram manhãs de preguiça por que estou muito cansada de não fazer nada.



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